Cerca de 50 pessoas que estavam em um teatro improvisado numa das salas da antiga Fundação Vida, hoje CEPASA, viram nascer o Grupo Teatral Fênix, a peça era THE END “ O fim esta próximo” e a data 16 de março de 1996. O elenco foi dirigido por Cesar Junior da Silva e em cena os atores: José Nei Souza Lopes, Robson de Oliveira, Juliano Silva Santos, Adriana Paula de Lima, Mirian Luciana Silva Morato, João Paulo Thiago
Éramos jovens sedentos por cultura, cheios de medos e fraquezas, tínhamos por desafio, convencer a nós mesmo que era possível, que podíamos fazer arte, porém tínhamos que driblar não só o nosso amadorismo, mas também a incompreensão dos nossos pais e a falta de patrocinadores.
Recebemos do senhor Ildeu Pereira total liberdade, a Fundação Vida estava de portas abertas para acolher sonhos e sonhadores. Todos os dias no final da tarde nos reuníamos para os ensaios, dividíamos o espaço com a capoeira, com o Karatê e muitas vezes com alunos do Projeto Tele-Sala.
O Grupo permaneceu ali durante 5 meses, como a peça estava agendada para estrear ao grande público no mês de novembro, não podíamos continuar na Fundação, o teatro não é egoísta, mas para fazê-lo, é necessário muita paciência, silêncio e concentração.
Procuramos o apoio do Convento e autorizados passamos a ensaiar em um palco que na verdade era o reservatório de água daquela entidade, esse local também era dividido com a catequese, aulas de violão e os cursos realizados pela igreja. Mesmo assim permanecemos até a estreia, 18 de novembro de 1996 no Ginásio Poliesportivo do Colégio do Carmo.
A estreia para o um grande público
O Grupo Teatral Fênix sempre contou com um elemento fundamental: a sorte. A prefeitura havia criado a Fundação Municipal de Arte e Cultura e seu recém empossado diretor Claiton César, teve como primeiro desafio nos ajudar a transformar o ginásio do Colégio do Carmo num teatro. Primeiro tivemos que buscar no CAIC 8 estruturas de metal e madeira que pesavam uns 60K cada uma. Depois buscamos 200 cadeiras, que a Escola Estadual Delvito Alves nos emprestou, arrastar gols, limpar a quadra de esporte do ginásio e ajeitar o que seria o nosso camarim.
Tarefas cumpridas era hora de nos preparar para o público, tínhamos vendido muitos ingressos, a expectativa era grande. No camarim atrizes e atores desesperados, era o frio na barriga, era estreia.
Pintou outro grande Anjo da Guarda e grande mesmo, seu nome era Brunão (Professor Bruno Amaral ), ele era ator do Movimento Cultural UM-PAC-JEM e veio somar forças, nos ajudou a montar a iluminação, ajudou na maquilagem dos atores e atuou como contra regra. A ajuda destes dois experimentes atores foi fundamental para a nossa estreia, sem eles teríamos muito trabalho e muita dor de cabeça.
No camarim era aquele sufoco, era ator tentando lembrar falas, atriz passando roupas, brigando por cabides, pentes, etc e tal, mas o nosso maior medo era presença do público: será que vem gente?
Cesar Junior, Adriana Lima e Vanessa Teixeira em The End ” o fim está próximo”
As vinte horas abriram os portões do ginásio e uma multidão de jovens vieram prestigiar nossa estreia. Nossos pais, amigos e colegas de escola estavam lá, sentados a nossa espera. Anunciaram o espetáculo, as luzes foram apagadas, as cortinas se abriram e o frio na barriga quase nos deixa numa situação constrangedora.
Quarenta minutos depois lá estava o público nos aplaudindo e “elogiando” nossa estreia. Finalmente podíamos dizer que fazíamos parte deste mundo louco que é o teatro, Claiton e Brunão era só alegria e quando foram embora ficou a certeza de que podíamos sempre contar com a proteção desses anjos do teatro. É importante dizer que o céu daquela noite quase se desmanchou em água e nós tomamos um abençoado banho frio e um belo resfriado de lambuja.
Cartaz da nossa primeira pela teatral. O Grupo Teatral Fênix estreou no dia 08 de dezembro de 1996 ás 20H50
Depois da nossa estreia, e a convite dos diretores da ACIU, hoje ACE , passamos a ensaiar no porão do prédio onde funcionava a Associação Comercial, em cima da Everesty Modas. O porão não era aconchegante, mas não dividiríamos ele com ninguém, engano nosso, la havia um reservató-rio de água e agregado uma imensa e barulhen-ta bomba d’água, não dava para ensaiar assim, “o teatro requer silêncio para ser realizado”. Um dia descobrimos a chave que desligava a bomba e todo ensaio um de nós ficava responsável em desligar e religar a bomba, tínhamos uma esca-la mensal para isso . Mas um dia alguém esqueceu de religar a tal bomba d’água, choveu muito e a agua invadiu o porão e como a bomba estava desligada a agua não foi bombeada e quando chegamos para o ensaio nos deparemos com catálogos navegando, A água quase molhou os arquivos da ACIU e nos deixou na rua. Também nós não queríamos mais ensaiar naquele lugar cheirando a mofo.
O Bordom Silvério, da Ideal Construtora nos procurou e ofereceu a cobertura do Brasília Flat, lá podíamos ensaiar despreocupados com o barulho, era um local maravilho e logo demos a ele nossa cara, compramos um espelho grande, pintamos as paredes, enfeitamos garrafas pets que foram colocadas no telhado. Era ali a nossa casa, mas estava bom demais para ser verdade, nosso barulho começou a incomodar a vizinhança andares abaixo, o síndico chamou nossa atenção: Seu moço, não da para ensaiar em silencio, os gritos e a cantoria fazem parte do espetáculo que estamos preparando…. Não teve argumentos tivemos que sair.
Eu sei que o amigo leitor deve estar pensando que somos arruaceiros, bagunceiros e muito atrevidos, você não esta enganado, somos isso mesmo, mas não conte pra ninguém, não fazemos por maldade ou por falta de educação é que teatro precisa também do barulho, da farra e da desordem para acontecer.
Talvez você leitor, não acredite na sorte, mas ao longo desses o Grupo Teatral Fênix acu-mulou uma série de amigos que apesar dos pesa-res nunca nos deixou na mão, e a convite do Lú-cius Buffet , passamos a ensaiar na antiga AS-CADIUM, em frente a antiga entrada FACTU. Era um barracão de zinco, pensa num trem quente, parecia uma sauna, apelidamos o lugar de “inferninho”.
Adriano Barbosa carregando parte de cenários . Adriano foi ator, produtor, cenógrafo e sonoplasta do Grupo Teatral Fênix